terça-feira, 28 de outubro de 2008

O TALIAN

O TALIAN
Honório Tonial





O Talian é uma nova língua resultante da fusão ou amálgama dos diversos dialetos dos imigrantes italianos e seus descendentes, falada e escrita por alguns milhões de pessoas, especialmente no sul do Brasil e entendido em muitas províncias, especialmente do norte da Itália.
Em crescente atualização incorpora neologismos e idiomatismos resultantes do surgimento de novas denominações decorrentes da sua dinâmica..
Para fundamentar a origem deste novo idioma convém retroceder ao ano de 1875, época do início da grande imigração italiana.
A abolição da escravatura poderia ser invocada como um pretexto para o advento dos italianos ao Brasil.
Todavia, se retornássemos ao porto de Gênova, por exemplo, ou outro qualquer, àquela época, depararíamos com um cenário impressionante.
Verdadeira multidão de pessoas preparando-se para embarcar no “bastimento” rumo ao desconhecido.
A estrada seria a imensidão do mar.
Abandonando o torrão natal, as montanhas e os vales floridos davam adeus aos parentes e amigos em busca de um lugar para viver.
Crianças e jovens de ambos os sexos; vários casais; anciãos desiludidos; rapazes temerosos da guerra juntavam-se para deixar lugar e alimentos aos que se recusavam partir.
A maioria trivêneto-Lombardos derramavam lágrimas de nostalgia ao abandonar o lar em que nasceram.
A Itália ainda não possuía uma língua oficial e os registros apontavam a existência de mais de 40 falares, com literatura escrita.
As verdadeiras causas da emigração foram:
As terras em mãos dos latifundiários que submetiam os “contadini,” (agricultores) ao trabalho semi-escravo.
A escassa e deficiente alimentação, era a causa da “pelagra” que dizimava crianças e idosos.
A inexistência de fábricas e indústrias provocava o desemprego.
As guerras ceifavam vidas preciosas.
De outra parte, as Companhias de Colonização apregoavam a nova Canaã e prometiam aos retirantes todas as facilidades para se tornarem proprietários de terras férteis.
A superpopulação começava a limitar os espaços destinados à agricultura..
A própria igreja estimulava as pessoas sofridas a armar-se de coragem e esperança para imigrar.
Nas reuniões, nos encontros, nos “filós”, nas “bodegas” o assunto era a situação de vida das populações.
- Malditos latifundiários.!
- A “pelagra “ e a guerra são nossos tormentos.!
E, murmuravam:
“ Formàio no ghen tàio
Butiro no ghen tiro
Puìna, pochetina
E scolo, fin al colo.”

“Queijo, eu não corto.
Manteiga, eu não ganho,
Requeijão, só um pouquinho.
E soro, até ao pescoço”.
Alguns se desesperavam ao abandonar os parentes e amigos.
Os retirantes encaixotavam seus poucos pertences, alguma ferramenta, sementes e mudas de parreiras e os retratos e objetos mais caros.
A travessia marítima teve seus percalços.
Chegados ao porto de Santos tiveram de submeter-se à quarentena para, após, seguirem até o destino final.
Muitos se embrenharam nas fazendas de café no Estado Paulistano e outros se dirigiram ao Espírito Santo ou para o Rio Grande do Sul.
Não só durante a viagem como também nos galpões coletivos a necessidade de comunicação deu início à formação da nova língua.
Porém, foi no assentamento definitivo que começou a solidificar-se o novo idioma surgindo os primeiros neologismos necessários à denominação de novos acidentes geográficos, espécies de animais e plantas desconhecidos nas terras de origem, bem como a denominação das localidades.
Houve prevalência do vêneto por ser o maior numero dos imigrantes e pela desenvoltura lingüística.
Todavia podemos encontrar, até na data atual, termos e expressões advindas dos diferentes dialetos originários.
É correto afirmar que nos tempos atuais torna-se necessário o conhecimento do Italiano Oficial
Todavia não é menos verdade que 90% dos estudiosos desse idioma constituem-se em falantes do Talian, o que facilita o processo de aprendizagem.
Convém salientar que o Talian é uma língua em franco desenvolvimento com plena perspectiva de consolidação.
Tal afirmativa encontra suporte no aumento anual de escritores e falantes, especialmente com a edição de livros didáticos, tais como, cartilhas ou abecedários, gramáticas, dicionários, livros de ficção e até romances.
No campo da poesia surgem renomados autores.
A Associação dos Apresentadores de Rádio Talian do Brasil encontra-se em visível crescimento.
A música, os encontros de corais, nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina concorrem no desenvolvimento desta nova língua, a primeira a solicitar Registro no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – como Bem Cultural Imaterial.
Encerrando estas considerações ocorre-me um conto infantil de autor desconhecido que encontra guarida:
Um camundongo roia um pedaço de queijo tranquilamente.
Repentinamente deparou-se com um enorme gato à sua frente, com olhar cínico e lambendo-se os bigodes.
Apavorado jogou-se num buraco embaixo da caixa da lenha. Por pouco se pos a salvo.
Tremendo de medo raciocinou: - Eu fico quieto, o gato cansa de esperar, vai embora e eu retorno ao meu queijo.
Passado certo tempo ouviu o latido de um cachorro.: Au, Au, Au...
Exclamou:- Agora posso sair.
Mal meteu a cabeça para fora da toca viu-se nas garras do bichano.
Esperneando, gritou desesperado: - Como pode um gato “miauento” latir igual a um cachorro?
O gato sentenciou:
Hoje em dia, com a globalização, quem não sabe ao menos duas línguas está “ferrado.”
Não deixa de ser uma brincadeira que evidencia um fato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostaria de receber comentários referentes aos ssuntos expressos no Blog do Talianeto