sábado, 19 de novembro de 2016

NOVO PRESIDENTE DOS EE.UU

Trump pode afetar a política europeia?

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA representa uma ameaça à estabilidade da União Europeia


Como a gestão de Trump pode afetar a política europeia?
A UE está perdendo rapidamente a fé em sua capacidade de defender os ideais liberais (Foto: Flickr/Gage Skidmore)
Que lições a Europa deveria tirar da vitória eleitoral de Donald Trump? Para os europeus acostumados às excentricidades dos Estados Unidos, não haveria muito a aprender. As eleições primárias americanas semelhantes a uma luta de gladiadores em um circo repercutiram pouco na Europa, e Trump, com toda a sua presunção e fanfarrice é, sem dúvida, um fenômeno sui generis americano. Além disso, o colégio eleitoral é uma instituição peculiar e, afinal, Hillary Clinton venceu as eleições no voto popular. 
Mas para a maioria dos políticos europeus o choque da eleição presidencial americana teve um peso maior em razão dos paralelos óbvios com suas democracias. Os líderes preocupados enviaram cartas de felicitações a Trump com lembretes velados a respeito dos valores transatlânticos, que muitos acreditam que após sua vitória estão ameaçados. Enquanto isso, o exército europeu de pequenos Trumps, da França à Itália e até à Hungria, aprendem suas lições com o resultado e fazem elogios ao presidente eleito, sem uma relação consistente com a realidade dos EUA, e sim com seus projetos de confrontos políticos: se aconteceu lá, por que não aqui? O “sistema político e ideológico convencional apático e desacreditado está sendo punido pelos eleitores passo a passo”, disse Heinz-Christian Strache do partido de extrema-direita Liberdade da Áustria (FPÖ) em sua mensagem de felicitações a Trump no Facebook.  
Há anos os sinais de despertar ecoam na Europa. Assim como nas famílias infelizes de Tolstói, cada desastre é diferente em sua especificidade. A crise do euro opôs credores contra devedores e eliminou a noção de solidariedade; o Brexit mostrou um futuro incerto para a União Europeia (UE) de redução ou crescimento. Depois de tantos traumas nos últimos anos muitos europeus estão preparados para enfrentar esse novo choque, embora a perspectiva da presidência de Trump não estivesse nos planos. Entretanto, seus efeitos na UE podem, ao longo do tempo, serem profundos.
A ascensão à Casa Branca de Trump, um admirador de Vladimir Putin, que ameaça abandonar os aliados dos EUA na Otan, impõe questões urgentes para a segurança da Europa. O enfraquecimento do compromisso dos EUA com a Otan pode prejudicar insidiosamente a garantia de paz, que permitiu à UE prosseguir com seu projeto de integração. Mas se, em razão da instabilidade de Trump, os efeitos geopolíticos de sua presidência ficarem difíceis de prever, o reflexo na autoconfiança da Europa, já abalada por uma série de crises, será imediato.
A União Europeia está perdendo rapidamente a fé em sua capacidade de defender os ideais liberais que a vitória de Trump repudia. A autoestima está tão debilitada que agora pequenos sucessos são vistos como feitos políticos extraordinários. Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, anunciou um acordo comercial recente com o Canadá como um triunfo para a democracia ocidental, depois de negociações no último minuto para salvá-lo da morte nas mãos de um parlamento regional obstinado da Bélgica.
Mas se a vitória de Trump representa uma ameaça à UE, esse perigo será transmitido em primeiro lugar pelas tribunas dos políticos. Strache e seus companheiros se sentirão estimulados com a vitória de um homem que desafiou as pesquisas e compartilha o desprezo deles pelas elites e o gosto por discursos patrióticos bombásticos e demagógicos. É possível que obtenham uma recompensa eleitoral, embora talvez efêmera com a eleição de Trump. O apoio à adesão à União Europeia aumentou na maioria dos países desde que o Reino Unido votou pela saída da UE em junho. O primeiro teste será realizado na repetição do segundo turno das eleições presidenciais na Áustria em 4 de dezembro, quando o candidato do FPÖ, Norbert Hofer, enfrentará Alexander Van der Bellen, o candidato apoiado pelos ambientalistas.
No entanto, mesmo sem a participação no governo os populistas podem atrair o apoio de outros políticos. Ao forçar os centristas a se aproximarem da periferia, com uma população de baixa renda, a vitória de Trump pode fortalecer o euroceticismo em países como a França e a Holanda, ambos com eleições previstas para 2017. Felizmente, na Alemanha Angela Merkel demonstra ter uma estrutura mais forte. O euroceticismo, por sua vez, pode prejudicar o bom funcionamento da UE, essencial para integrar de forma harmônica as relações complexas entre seus 28 países membros. No âmbito da UE a alternativa para camuflar a situação não é uma tomada de decisões sem atrito, mas sim a paralisia e a inércia. Os eurocratas em Bruxelas queixam-se com frequência que são usados como bodes expiatórios para compensar os fracassos dos políticos. Eles devem se preparar para enfrentar uma pressão ainda maior.

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